Estação Meteorológica do IAG/USP
Seção Técnica de Serviços Meteorológicos
Explorando a Meteorologia
1 - Geral
1.1 - Como é calculada e o que é a Umidade Específica?
1.2 - O que é Pressão de Vapor?
1.3 - Como calculamos a Umidade Relativa?
1.5 - Por que algumas nuvens despejam água em certos instantes e outras não?
1.6 - Como se forma um nevoeiro?
- Umidade elevada: para formar as gotículas microscópicas
- Céu limpo: para aumentar o resfriamento da superfície
- Ventos fracos: que evitam que o nevoeiro se dissipe logo que se forma
A imagem abaixo mostra a ocorrência de nevoeiro na Serra do Mar.
1.7 - Por que os dias amanhecem com forte nevoeiro, são quentes e geralmente sem nuvens?
1.8 - O que são "Cumulus de Bom Tempo"?
Em dia ensolarado, a superfície da Terra se aquece o suficiente para formar termas. Termas são parcelas de ar quente e que portanto são mais leves e por isso sobem. Ao subirem, encontram temperaturas mais baixas, que fazem com que o vapor d'água contido nessas parcelas de ar quente se condense, formando as nuvens. Se o dia estiver suficientemente quente e a oferta de vapor d'água for boa, essas nuvens podem crescer e dar origem a nuvens de chuva, chamadas de Cumulonimbus. Caso não aumente muito de volume, o pequeno crescimento destas nuvens mostra não haver uma acentuada atividade convectiva na atmosfera, portanto não existiria a possibilidade de se formarem nuvens de tempestades.
Se não há possibilidade de tempestades, tais nuvens passam a ser consideradas de "bom tempo".
1.9 - Como se forma o orvalho?
Este resfriamento causa a condensação do vapor d'água próximo, que se deposita nas superfícies (plantas, carros, portões, etc.) em forma de gotículas.
1.11 - Por que em alguns instantes conseguimos ver o vapor d'água que está na atmosfera?
O que conseguimos ver são as nuvens, que são um aglomerado de gotículas de água ou gelo. Quando uma panela está com água fervendo, aquilo que vemos sobre a panela não trata-se de "vapor" ou "fumaça". É, na verdade, uma nuvem, pois a água da panela evaporou e depois condensou-se ao encontrar o ar mais frio. Podemos seguir o mesmo raciocínio para aquela "fumaça" que sai de nossa boca quando está muito frio ou para aquela "fumaça" que fica no banheiro depois de um longo banho quente. Não trata-se de fumaça ou vapor, mas sim de nuvens.
1.12 - A passagem de um cometa próximo da Terra pode influenciar o clima do planeta?
1.13 - Qual a relação entre Marés e Clima?
1.14 - Por que alguns pássaros voam mais baixo, um pouco antes de uma pancada de chuva?
1.15 - Existe pôr do Sol e nascer do Sol todos os dias em todos os locais do planeta?
Na figura abaixo, podemos notar que mesmo com o planeta em rotação a região superior do Pólo Norte irá permanecer durante muito tempo clara, ou seja, neste local durante meses o Sol não irá se pôr e nem nascer. O mesmo ocorre nas proximidades do Pólo Sul. Esse tipo de situação ocorre no período de verão de cada um dos hemisférios.
1.16 - O que quer dizer "Choveu 12 mm hoje"?
2 - Atmosfera
2.1 - Por que a pressão atmosférica é maior nos dias mais frios?
Também é necessário perceber que em dias mais frios, teremos uma circulação de alta pressão, que é a divergência de ar em direção a superfície gerando uma alta pressão.
2.2 - O frio torna o ar mais denso?
Portanto ao diminuirmos a temperatura, aumentaremos a densidade do ar.
2.3 - Barômetro a 0°C: para que serve esta correção?
O registro de pressão feito nas Estações Meteorológicas está condicionado à temperatura do momento em que a medida é feita. Para que os dados sejam comparados entre estações, é necessária uma padronização. Essa padronização é feita reduzindo a pressão a 0°C, que é como se a pressão tivesse sido medida em um ambiente com temperatura de 0°C.
2.5 - Qual a composição da atmosfera?
2.7 - Há gases que podem ser vistos?
Flúor: amarelo pálido
Cloro: esverdeado
Iodo: violeta
NO2: castanho
2.8 - Qual a altura da Atmosfera?
2.9 - O ar tem peso? Quanto pesa um litro de ar, por exemplo?
O peso de toda a atmosfera está estimado em aproximadamente 5*10^18kg.
2.10 - O ar está presente em todo lugar da Terra?
Logo, como a atmosfera é um gás, aplica-se essas propriedades.
2.11 - O que são Raios Ultravioletas?
O Sol emite 44% de radiação neste comprimento, que é chamado de região do visível.
2.12 - A Poluição do ar filtra os Raios Ultravioletas?
PROZONESP - Programa Estadual de Prevenção a Destruição da Camada de Ozônio
Porém por causa do calor específico da superfície, teremos um retardo neste processo, o que resultará em um pico de temperatura por volta das 14 horas, como se observa no gráfico.
2.15 - O que é brisa marítima, terrestre e vale/montanha?
Assim, teremos a formação de ascendência e subsidência do ar.
A subsidência ocorre quando o ar quente se desloca em direção ao solo, por causa da menor densidade, formando uma alta pressão em superfície.
Já a ascendência ocorre, quando o ar em superfície começar a esquentar, diminuindo a densidade, logo haverá um deslocamento para cima, criando uma baixa pressão em superfície.
Quando estas gotículas atingirem tamanho superior a 1 milímetro, começará a precipitação. Podem existir nuvens com outras composições, como poeira e fumaça, que serão provenientes de carros e indústrias, nuvens de insetos e etc. pois podemos definir nuvem como uma massa visível de componentes pequenos em suspensão.
2.17 - Como as nuvens se formam?
2.18 - Quais as classificações de nuvens?
2.19 - Quais os tipos de nuvens?
Em alguns momentos se encontram próximo ao solo e podem causar garoa.
Indicam a presença de jatos ou turbulência e na maioria das vezes são na forma de grânulos.
Sempre estão em altitudes elevadas e são finas se comparadas com as demais.
São finas e esbranquiçadas, não cobrindo todo o Sol, permitindo que uma fração da luz passe, formando o halo.
Impedem a passagem de uma fração da luz, deixando-a com uma coloração acinzentada.
Geralmente estão presentes com Altocumulus.
Estão sempre associadas a outras nuvens, e na maior parte são cinzas.
Em uma linguagem mais fácil, formam um céu encarneirado.
Semelhante a um lençol enrolado e comprido.
São nuvens bem definidas, e podem estar em três categorias: "Humilis", "Mediocres" ou "Congestus".
Após estes estágios, podem passar para a Cumulunimbus e para isso dependerá de sua energia.
É a nuvem mais espessa, pode atingir espessuras superiores a 10km e na maior parte das vezes, em seu topo pode-se observar uma bigorna.
Na maioria das vezes está associada com chuvas contínuas.
Contrail
2.20 - Qual a altitude que uma nuvem pode atingir?
2.21 - Como é a distribuição de água em um Cumulunimbus?
2.22 - Como é a distribuição vertical da umidade na atmosfera?
2.23 - O que é uma Frente Fria?
A frente fria é representada nas cartas sinóticas como:
2.24 - O que é uma Frente Quente?
A frente quente é representada nas cartas sinóticas como:
2.25 - O que é uma Frente Estacionária?
A frente estacionária é representada nas cartas sinóticas como:
2.26 - O que representa um Cavado?
O cavado é representado nas cartas sinóticas como:
2.27 - O que é uma Frente Oclusa?
Existem dois tipos, a oclusão fria que ocorre quando o ar frio está atrás da frente fria e a oclusão quente, que ocorre quando o ar frio esta atrás da frente quente.
A frente oclusa é representada nas cartas sinóticas como:
2.28 - O que representa uma Linha de Instabilidade?
Elas incluem áreas de grande precipitação, resultantes das áreas de tempestades.
As linhas de instabilidade são representadas, nas cartas sinóticas, como:
2.29 - O que representa uma Linha Seca?
A linha seca é representada como:
2.30 - O que representa uma Onda Tropical (Tropical Wave)?
As ondas tropicais são representadas, nas cartas sinóticas, como:
3 - Climatologia
3.1 - Por que no Brasil há diferenças significativas de temperatura de estado para estado?
Para cada latitude, teremos um aquecimento diferenciado, levando assim algumas regiões terem um maior aquecimento do que outras.
3.2 - Como se forma as Frentes Frias?
A frente fria, em específico, se forma quando uma massa de ar frio avança sobre região de ar quente.
Devido a diferença de temperatura, há uma diferença na densidade, fazendo com que o ar quente suba, aumentando a umidade, que condensa, formando nuvens e, em alguns momentos, precipitação.
Este efeito existe por causa da presença de alguns gases, como o Dióxido de Carbono (CO2) e o Vapor d'Água.
Alterando a composição da atmosfera, teremos a intensificação do fenômeno, que aumenta a temperatura e a evaporação, a quantidade de água disponível na atmosfera e consequentemente a intensificação das chuvas.
Entretanto, é difícil quantificar este fenômeno. Na cidade de São Paulo-SP foi observada uma elevação da temperatura média anual e também uma elevação na quantidade anual de chuvas. Essa modificação no clima da cidade deve-se principalmente as mudanças locais, como aumento na quantidade de construções e impermeabilização do solo, que fizeram com que mais calor ficasse armazenado na cidade de São Paulo. Essa energia adicional faz com que a temperatura se eleve e mais nuvens de tempestades se formem.
O gráfico abaixo mostra a evolução da temperatura média anual desde 1933 até 2011, indicando um aumento médio de aproximadamente 2,0°C.
3.4 - O movimento ciclônico é horário no Hemisfério Sul e anti-horário no Hemisfério Norte. Por quê?
3.5 - Do ponto de vista físico, o que é "Aquecimento Global"?
Vapor d'água, nitrogênio, oxigênio e gases traços absorverão a energia solar, reemitindo energia em forma de calor e assim aquecendo a atmosfera terrestre. Esse processo faz com que o planeta seja amplamente habitável, pois mantém a temperatura média do ar em torno de 16°C, globalmente falando. Se os gases não desempenhassem esse papel, a temperatura média do planeta seria em torno de -18°C. O nome deste fenômeno é Efeito Estufa.
Se alterarmos a composição da atmosfera, o Efeito Estufa poderia ser amplificado ou diminuindo, fazendo com que a temperatura média do planeta ficasse maior ou menor. Atualmente, fala-se muito que a emissão de alguns gases provenientes da atividade humana (principalmente CO2 e CH4) poderia amplificar o Efeito Estufa, que é o que chamam de Aquecimento Global.
Se a temperatura do planeta aumentar, teremos uma maior evaporação, aumentando a quantidade de vapor d'água na atmosfera, elevando ainda mais a temperatura.
IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change
3.7 - Se o planeta não tivesse Efeito Estufa, isso modificaria a temperatura média global?
3.8 - Existe mesmo o "Aquecimento Global"?
3.9 - Existe somente movimento horizontal na atmosfera?
4 - Tempestades
4.1 - Quais as diferenças entre tempestade, ventania, rajada e granizo?
Ventania: intenso fluxo de ar.
Rajada: fluxo instantâneo de ar.
Granizo: "pedra" de gelo formado a partir da colisão de água super-resfriada e cristais de gelo.
A nuvem associada a todos estes fenômenos é a Cumulonimbus: latim "acumular" + Nimbus: latim "nuvem de chuva").
4.2 - Diferença entre: raios , trovões, relâmpagos, tornados, ciclones e furacão.
Trovão: o raio aquece a atmosfera ao seu redor, causando um brusco aquecimento e uma rápida expansão do ar, consequentemente o ruído.
Tornado: a partir da base da nuvem, forma-se um funil em direção ao solo, denominado de tornado.
Tromba d'Água: tornado acima de uma grande superfície de água.
Furacão: é a maior tempestade do planeta. Pode atingir diâmetros de até mais de 1000 km. Só se formam onde a temperatura da água esta acima de 27ºC, pois necessitam de muito vapor para se manter.
Nota: Ciclone Tropical, Furacão e Tufão são palavras que correspondem ao mesmo tipo e fenômeno. Dependendo da região de ocorrência, o fenômeno pode apresentar nomes diferentes.
4.3 - Durante uma tempestade, pode cair mais de um raio ao mesmo tempo?
4.4 - Ficar ao telefone durante uma tempestade que tenha muitos relâmpagos é perigoso?
Já para os telefones sem fio, caso um raio atinja a linha, a transmissão por fios não será possível, mas pode haver um ruído muito intenso, irritando os ouvidos.
4.5 - Tomar banho durante uma tempestade é perigoso?
4.6 - Como se forma o granizo nas nuvens e por que caem?
Esse processo ocorre várias vezes e quando o peso do granizo sobrepor a força de empuxo, ele cairá.
4.7 - O ar tem peso? Quanto pesa um litro de ar, por exemplo?
4.8 - Um avião pode se chocar com um granizo?
Além disso, os pilotos trocam informações sobre a posição dessas tempestades para evitar essas colisões.
4.9 - Como são formados os raios?
Porém, é necessário a existência de um outro centro de carga de sinal oposto, em um local não muito distante para a formação do raio.
4.10 - Existem raios somente em direção a superfície?
4.11 - O que é e por que existe o "Raio Bola"?
YouTube - Canal de ttyler1999 YouTube - Canal de forrodecana
4.12 - Quais são os fenômenos elétricos da atmosfera?
RED SPRITES: é um fraco flash de luz que aparece acima de uma tempestade intensa. Geralmente é vermelho, e dura milésimos de segundos. Tendem a se formar quase simultaneamente com relâmpagos na nuvem abaixo e com tempestades severas que têm relâmpagos com cargas positivas do tipo nuvem-solo (a maioria dos relâmpagos nuvem-solo é negativo). Embora não seja totalmente claro como ele se forma, uma das hipóteses é que formação ocorre quando um raio positivo interrompe o campo elétrico da atmosfera de tal forma que partículas carregadas na atmosfera superior são aceleradas para baixo em direção à tempestade e as partículas ascendentes são levadas para níveis mais superiores.
YouTube - Canal de Eastview605
BLUE JETS: ocorre normalmente para cima em forma de cone e geralmente começa no topo das tempestades que possui intensa atividade de relâmpagos. Apesar de fraco, podem ser vistos a olho nu. Eles não são bem compreendidos, mas parecem transferir grande quantidade de energia elétrica.
4.13 - Quais são as classificações dos tornados?
4.14 - Quais as classificações dos furacões?
4.15 - Como se forma um tornado?
Resultados recentes mostrados pelo programa VORTEX relacionam a formação do tornado com a diferença de temperatura ao longo do ar descendente que envolve o Meso-Ciclone.
Porém, alguns modelos matemáticos mostram que pode haver formação de tornado em locais sem essa variação de temperatura. Além desses modelos, alguns tornados observados em 1999 se formaram em regiões sem essas variações.
4.16 - Como se forma um furacão?
Esta rotação, que se dá em torno de um eixo central, possui velocidade de aproximadamente 61 km/h. Até este momento a tempestade é classificada como depressão tropical. Somente quando ela se torna constante a 62 km/h, ela é denominada como tempestade tropical e os órgãos responsáveis iniciam seu monitoramento.
Com o passar do tempo, a tempestade pode ganhar energia através do vapor d'água, que será puxado da superfície do oceano através de ventos quentes de nível superior. Esta tempestade pode atingir velocidade superior a 119 km/h, passando para um furacão.
O furacão pode durar vários dias, dependendo de sua trajetória, pois se ele passar sobre águas geladas ou mesmo sobre o continente o vapor d'água, que é sua principal fonte de energia, será reduzido, desintensificando seus ventos.
4.17 - O que determina o caminho do raio?
O fenômeno dura poucos minutos e pode ter ventos de aproximadamente 96 km/h.
4.19 - Como se forma um Dust-Devil?
Depois desse aquecimento, a diferença de densidade tornará a atmosfera instável. A parcela de ar mais quente, que se encontra logo acima do solo, começa a subir rapidamente.
Se a velocidade vertical for suficientemente grande, a rotação do fenômeno e sua intensidade serão maiores.
5 - Trabalho do Meteorologista
5.1 - Existe Previsão de Tempo e de Clima para regiões agrícolas e marítimas?
Previsão do tempo e tempo severo com indicação de tempestades é realizado por órgãos de meteorologia da defesa civil.
Nos transportes aéreos o trabalho também é muito importante. Na decolagem e na aterrissagem, é necessário para evitar o encontro com nuvens de tempestades na cabeceira. Já durante o vôo, a importância continua para evitar nuvens de tempestades severas ou mesmo de turbulência.
5.3 - A Estação Meteorológica faz Previsão do Tempo?
5.4 - Por que há muitos erros na Previsão do Tempo?
5.5 - Como elaborar e analisar uma Carta Sinóptica?
Assim pode ser feita uma análise das condições atuais, e também uma possível condição futura, como o deslocamento de massa de ar.
Para cartas de baixos níveis, plotamos isolinhas de pressão, vento, temperatura e temperatura de ponto de orvalho, já para altos níveis, plotamos linhas de corrente e geopotenciais.
5.6 - Com a era digital, como está a evolução no campo meteorológico nacional?
Essa aquisição fará com que a previsão do tempo se torne mais precisa para um maior período e um detalhamento um pouco maior, 5km na América do Sul e 20km para o Globo.
5.7 - A Meteorologia serve apenas para prever o Tempo?
Advocacia, Agricultura, Arquitetura, Aviação, Atividades Militares, Biologia, Comércio, Defesa Civil, Ecologia, Esportes, Engenharia (Civil, Elétrica e Mecânica), Geografia, Hidrologia, Hospitais, Indústria, Justiça, Lazer, Medicina, Moda, Música, Navegação, Oceanografia, Previsão do Tempo, RIMAs (Relatórios de Impacto ao Meio Ambiente), Seguros, Telecomunicações, Transportes, Veterinária, Zootecnia.
Cada área utiliza os dados meteorológicos mais adequados ao projeto específico.
5.8 - Com quanta antecedência pode-se fazer a Previsão do Tempo?
Para o intervalo de 4 a 7 dias, o que temos é uma tendência das condições meteorológicas e não uma previsão.
5.9 - Quem é o meteorologista?
Atribuições:
- dirigir órgãos e serviços de Meteorologia nos diversos campos de sua utilização;
- julgar e decidir sobre tarefas científicas e operacionais de meteorologia;
- executar previsões meteorológicas;
- executar pesquisas nas mais diversas áreas da meteorologia;
- dirigir, orientar e desenvolver projetos científicos em meteorologia;
- criar, renovar, desenvolver e introduzir técnicas, métodos e instrumental em trabalhos de Meteorologia que consta em pesquisar e avaliar recursos naturais da atmosfera, avaliar modificações artificiais nas características do tempo ou mesmo ministrar cursos, disciplinas, palestras e conferências sobre temas relacionados com a meteorologia.
5.10 - Em quais áreas o meteorologista atua?
Além da previsão do tempo através da qual a Meteorologia é mais profundamente conhecida, e da Climatologia, existem outras aplicações importantes da Meteorologia, tais como em: Aeronáutica, Agricultura, Arquitetura, Biologia, Companhias de Seguro, Defesa Civil, Ecologia, Energia Eólica, Energia Solar, Engenharia, Esportes, Geografia, Hidrologia, Justiça, Lazer, Medicina, Mídia (rádios, TVs, jornais e/ou revistas), Navegação, Oceanografia, Perícia Técnica, Previsão do Tempo, RIMAs (Relatórios de Impacto ao Meio Ambiente), Telecomunicações e Zootecnia.
5.11 - Meteorologia na Faculdade
Você gosta de Física e Matemática? Então conheça como é a Meteorologia na USP:
A Meteorologia é uma área muito mais ampla do que a grande maioria imagina. Ela não serve só para predizer chuva no jornal!
Existem muitas sub-áreas da Meteorologia, como biometeorologia, meteorologia dinâmica, física, sinótica, química e outras mais e essa interdisciplinaridade que a torna interessante. Mas, em suma, a Meteorologia é uma ciência da Terra, mais especificamente das Ciências Atmosféricas, e o meteorologista é o responsável por analisar e interpretar dados, gráficos, imagens de satélite da atmosfera e até programas de computador que dizem respeito à atmosfera.
Para que o meteorologista seja capaz de realizar tudo isso é preciso uma base sólida em conceitos físicos, químicos, matemáticos e computacionais. Isso faz da Meteorologia uma Ciência Exata! Então espere fazer muitas contas e realizar raciocínio lógico.
Você pode se tornar um meteorologista cursando o bacharelado em uma universidade. A USP oferece esse curso em São Paulo, no Campus Butantã, no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, o IAG.
No IAG, o curso tem duração ideal de dez semestres. Nos primeiros anos, os alunos aprendem toda a base matemática e física necessária e são introduzidos às principais áreas da meteorologia. Após isso, as disciplinas se tornam mais especializadas. Os futuros meteorologistas aprendem as ciências atmosféricas na teoria e na prática. Utilizando dados reais e instrumentos meteorológicos de verdade!
O aluno poderá fazer matérias optativas nas áreas em que quiser se especializar ou conhecer, como biometeorologia, matérias ligadas à oceanografia, satélites, programação e previsão do tempo e muitas outras. Além disso, existem diversos projetos de pesquisa fomentados pela USP, como iniciação científica, que permitem que o aluno se aproxime ainda mais da área e faça ciência de verdade!
Achou interessante? Ainda em dúvida ou quer saber mais sobre o que um meteorologista pode fazer? Então preste bastante atenção pois nas próximas semanas iremos postar entrevistas com meteorologistas formados que atuam em diferentes áreas e empresas bem diversas!
5.12 - A Meteorologia e o Trabalhador
Todos nós somos afetados direta e indiretamente pelas condições climáticas e buscamos nos informar, ou somos informados pela mídia, sobre a previsão do tempo. Assim, podemos fazer as melhores escolhas para fugir das adversidades. Porém, como fica a situação daqueles que não podem fugir do céu aberto pois trabalham ao ar livre? Além das intempéries conhecidas, esses trabalhadores estão expostos a perigos invisíveis ao olho, como a radiação ultravioleta, que pode causar até câncer de pele.
Para ajudar a mitigar a exposição a tais situações insalubres, nada melhor do que os conhecimentos da meteorologia. Para explicar melhor como funciona a atuação de um meteorologista na área de segurança e saúde do trabalhador, pedimos para que o Dr. Daniel Bitencourt, meteorologista da Fundacentro, instituição voltada para pesquisas sobre segurança, saúde e higiene do trabalho, respondesse algumas questões que podem ajudar a esclarecer dúvidas ao público em geral e a futuros meteorologistas que querem conhecer mais possibilidades nessa carreira.
A segurança e saúde do trabalhador são assuntos de extrema importância, mas a ideia de um meteorologista pesquisando nessa área é algo inusitado. Qual a importância dos estudos meteorológicos para a segurança e saúde no trabalho? Como o Brasil se destaca nessa área?
As condições atmosféricas, em suas diferentes escalas de tempo e espaço, influenciam direta ou indiretamente todos os seres humanos. Essa influência apresenta-se com diferentes graus de impacto, dependendo da intensidade do fenômeno atmosférico, do tipo de atividade e nível de vulnerabilidade da pessoa ou grupo de pessoas atingidas. No caso da atividade laboral, os trabalhadores de áreas externas merecem especial atenção, uma vez que estes são diretamente expostos às condições atmosféricas. No caso do Brasil, podemos citar como exemplos a alta incidência de descargas elétricas que atingem trabalhadores das áreas rurais, a radiação ultravioleta do sol que pode causar até câncer de pele em pescadores e os extremos de temperatura (ondas de frio ou calor) que são causadores de doenças relacionadas aos aparelhos respiratório e circulatório. Uma das linhas de pesquisa na área de segurança e saúde do trabalhador é direcionada ao estudo dos ambientes e atividades de trabalho e os seus respectivos riscos, focando os riscos relacionados à exposição a agentes ambientais, que no caso da meteorologia, trata-se dos chamados “riscos atmosféricos”. Resumidamente, as tarefas de pesquisa primeiramente buscam quantificar o risco atmosférico para um determinado local ou macro-região através da associação da frequência e intensidade do “agente” (por exemplo, onda de calor), delimitando áreas e épocas com maior risco de exposição. Posteriormente, avaliam-se todas as características do grupo de trabalhadores, tais como a organização no trabalho, as vestimentas do trabalhador, o turno de atuação, a carga de trabalho, entre outras tantas. Também é de suma importância estimar a vulnerabilidade socioeconômica média desses trabalhadores a fim de identificar o possível grau de impacto decorrente da incidência do fenômeno atmosférico. Assim, a importância dos estudos meteorológicos para a segurança e saúde do trabalhador se dá, em linhas gerais, através da aplicação dos resultados da relação “tempo/clima X saúde/segurança ocupacional” para o subsídio de ações mitigatórias que, em geral, são feitas através do desenvolvimento ou adequação das normas trabalhistas e/ou políticas públicas. O desenvolvimento tecnológico e as pesquisas científicas no tema “meteorologia” são realizados na Fundacentro através de uma ação institucional chamada “Análise de risco por influência da atmosfera para a saúde e segurança dos trabalhadores”. Este trabalho, que teve início em 2005, tem gerado tanto resultados pontuais, como a quantificação do efeito do frio na taxa de afastamento de um grupo restrito de trabalhadores por motivo de doença respiratória, como também macro-análises de todo o Brasil, que delimitaram o risco de estresse térmico e as perspectivas desse risco para o futuro frente às mudanças climáticas previstas. O grupo de estudo conta com uma equipe multidisciplinar, composta por pesquisadores da própria Fundacentro e em parceria tanto com universidades e institutos de pesquisa brasileiros como com organizações internacionais, tais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
Qual é o seu papel como meteorologista na Fundacentro? Como funciona a rotina?
Na Fundacentro eu faço parte de uma equipe multidisciplinar, composta por médicos do trabalho, engenheiros, agrônomos, físicos, químicos, biólogos, advogados, psicólogos, entre outros. Como meteorologista, colaboro com todas as questões relacionadas aos ambientes de trabalho à céu aberto. A rotina é de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, basicamente através do uso de dados atmosféricos observados, reanálises numéricas, simulações numéricas de mesoescala, modelos de clima de longo prazo, entre outros. Há ainda a colaboração com programas de pós-graduação onde ministro aulas e oriento alunos de mestrado.
A área é pouco conhecida, até entre os estudantes de meteorologia. Como o senhor a conheceu? Quais as dicas que o senhor pode dar a um estudante interessado?
Os estudos de meteorologia voltados à saúde pública não são recentes e, já há algum tempo, a biometeorologia é uma área bastante conhecida entre os estudantes e profissionais de meteorologia. Nesse contexto, a aplicação da meteorologia à saúde ocupacional é uma ramificação dos estudos voltados à saúde pública. Ocorre que para as pesquisas na área de saúde (e segurança) ocupacional é necessário buscar um detalhamento mais aprofundado do grupo impactado, sob a consideração dos diversos aspectos envolvidos no setor trabalhista de interesse. Eu sou originalmente servidor público federal, concursado do CPTEC/INPE no ano 1996. Em 2005, fui transferido para a Fundacentro que tem a mesma carreira de Ciência & Tecnologia. Foi nessa ocasião que passei a conhecer esta área e buscar meios para aplicar os conhecimentos de meteorologia na minimização das doenças e acidentes ocupacionais, o que até então não era feito na Fundacentro. A dica que arrisco a dar aos estudantes que pretendem se interessar no estudo da meteorologia aplicado à saúde pública, saúde ocupacional ou qualquer outro setor da sociedade é, primeiramente, buscar conhecer profundamente o setor impactado. O meteorologista conhece as ferramentas, o acesso aos dados e todo o potencial de aplicação desta ciência. No entanto, o conhecimento da realidade operacional do setor impactado revelará as maiores demandas desse referido setor e possibilitará que os resultados desta aplicação sejam muito mais efetivos.
Glossário
INPE: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais;
CPTEC: Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, pertencente ao INPE;
reanálise numérica: estimativa de variáveis atmosféricas através da combinação entre dados observacionais e modelos numéricos de previsão do tempo. Fonte: https://library.wmo.int/pmb_ged/gcos_195_en.pdf
Quer saber mais? Envie um e-mail para a Gabriela: gabriela_lima@usp.br
5.13 - Qualidade do ar também é assunto para meteorologista
O ar que respiramos pode se tornar um grande vilão contra a saúde humana, se estiver poluído o suficiente.
O ser humano sempre deixou para trás um rastro de poluição, mas em pequena escala. Com a Revolução Industrial, começamos a utilizar cada vez mais combustíveis fósseis em veículos e indústrias e a poluição se tornou um problema crítico.
Certos materiais dispersos na atmosfera, como o dióxido de carbono, podem contribuir para o agravamento do efeito estufa, e causar os fenômenos de ilha de calor em cidades grandes. Outros materiais inaláveis em suspensão podem ser um risco à vida humana, sendo capazes de causar desde asma até câncer de pulmão, sendo crianças, idosos e aqueles que já apresentam doenças respiratórias os mais vulneráveis.
A poluição do ar é um fenômeno complexo, que depende não somente da emissão de poluentes mas também da topografia e das condições meteorológicas do lugar. Por conta disso é necessário um monitoramento constante da qualidade do ar.
Para nos explicar um pouco mais sobre o papel de um meteorologista nessa área, convidamos a Dirce Maria Franco, bacharel e atual doutoranda em Meteorologia do IAG, que atua no Setor de Meteorologia da CETESB, a esclarecer algumas dúvidas!
Como é feita a avaliação da qualidade do ar? Como são colhidos os dados meteorológicos?
A avaliação da qualidade do ar é feita diariamente considerando-se os sistemas sinóticos e de mesoescala atuantes sobre a região. Nessas avaliações, são observadas tanto as condições meteorológicas em superfície quanto em altitude. Além disso, são também avaliadas as condições locais, tais como: direção e velocidades dos ventos; porcentagem de calmaria; altura da base de inversão térmica; distância das estações de monitoramento em relação às vias; tipo de uso do solo.
Que profissional pode realizar esse diagnóstico e qual o intervalo entre avaliações?
Na CETESB, essas avaliações são feitas por meteorologistas (é necessário possuir o registro no CREA). Diariamente é elaborado um Boletim Meteorológico com a previsão das condições de dispersão atmosférica para até 72 horas. As informações deste boletim são usadas no Boletim de Qualidade do Ar, emitido às 11:00 h, com os índices de qualidade do ar de todo o Estado e a previsão meteorológica de dispersão de poluentes atmosféricos para as 24 horas seguintes. Esses boletins estão disponíveis nos seguintes endereços:
https://cetesb.sp.gov.br/ar/qualar/.
https://sistemasinter.cetesb.sp.gov.br/html-ar/boletim-diario.html.
Além de analisar o estado do ar no presente e passado, meteorologistas também podem fazer projeções para o futuro utilizando modelos computacionais?
Na rotina diária da previsão de dispersão atmosférica, são utilizados prognósticos de modelos meteorológicos globais (GFS, ECMWF) e regionais (ETA, WRF), disponíveis em diversos endereços na internet. São também utilizados modelos numéricos e estatísticos para projeção de ozônio (p.ex., Redes Neurais, R).
Projeções de longo prazo podem ser realizadas, no caso do licenciamento ambiental, quando são usados modelos gaussianos de dispersão de poluentes (AERMOD, ISC), considerando cenários futuros de emissão de poluentes.
Um meteorologista pode ajudar na elaboração de planos de mitigação de poluição em cidades?
Sim, faz parte de nossas atribuições utilizar modelos meteorológicos e de dispersão de poluentes para estimar a qualidade do ar em relação a diversos poluentes na atmosfera, como ferramenta de gestão ambiental. Além disso, no processo de licenciamento ambiental, dependendo do potencial poluidor do empreendimento, são avaliados estudos de dispersão de poluentes atmosféricos, para os poluentes regulamentados, a fim de avaliar o impacto das emissões atmosféricas do referido empreendimento, na qualidade do ar.
A senhora trabalha na Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB. Qual a sua atuação como meteorologista nesta agência? Existem outros meteorologistas realizando funções diferentes?
Trabalho no Setor de Meteorologia como meteorologista e nossa rotina consiste em:
- elaborar o boletim meteorológico diário de previsão de dispersão de poluentes;
- avaliar as condições meteorológicas diárias de dispersão de poluentes na atmosfera;
- elaborar o Relatório Anual de Qualidade do Ar, contendo estudos qualitativos/quantitativos anuais sobre a qualidade do ar, análises estatísticas, análises de tendências e meteorológicas para o Estado de São Paulo;
- elaborar estudos relacionados à meteorologia e poluição do ar;
- participar de estudos e projetos relativos à meteorologia e poluição do ar em cooperação técnica com outras instituições;
- elaborar pareceres técnicos em assuntos que envolvam meteorologia da poluição do ar;
- prestar apoio técnico para instalação de estações meteorológicas;
- participar da seleção dos locais para instalação ou realocação de estações de monitoramento da qualidade do ar e de variáveis meteorológicas;
- fornecer previsão meteorológica para apoio às atividades de campo de outras áreas da Companhia;
- atuar como docente em cursos relacionados à meteorologia da poluição do ar da Escola Superior da CETESB
Quais são os lugares no Brasil onde um meteorologista pode atuar com isso? Apenas o setor público desempenha esse trabalho?
Na área de poluição ambiental, um meteorologista pode atuar em qualquer empresa que tenha atuação voltada à área ambiental. Pode atuar na avaliação e prevenção de risco ambiental das atividades de um empreendimento com potencial poluidor. Pode trabalhar em comunicação de risco em áreas degradadas. Pode atuar também em consultoria ambiental, na caracterização meteorológica e climática da região escolhida para a instalação de algum empreendimento com potencial poluidor, bem como na utilização de modelos de dispersão de poluentes e análise dos resultados simulados, em estudos de impacto ambiental com finalidade no licenciamento ambiental.
Glossário:
AERMOD: um modelo de dispersão de ar usado para avaliar a emissão de poluentes atmosféricos desenvolvido pelo "American Meteorological Society/Environmental Protection Agency Regulatory Model Improvement Committee";
CETESB: Companhia Ambiental do Estado de São Paulo;
CREA: Conselho Federal de Engenharia e Agronomia;
ECMWF: European Centre for Medium-Range Weather Forecasts - instituição européia responsável por prover previsões do tempo em escala global, reanálises climáticas e diversos conjuntos de dados meteorológicos;
ETA: modelo de área limitada, utilizado na previsão numérica;
GFS: Global Forecast System, modelo de previsão do tempo desenvolvido por National Centers for Environmental Prediction (NCEP), Estados Unidos;
inalável: algo que se pode inalar;
inversão térmica: fenômeno atmosférico causado quando o ar quente é impedido de ascender e dar lugar ao ar frio. Pode ser causado por uma camada de poluição;
ISC: modelo que pode ser utilizado para avaliar a concentração de poluentes associados com emissões industriais;
mesoescala: fenômenos atmosférico com dimensões horizontais de um a centenas de quilômetros;
mitigação: diminuir a intensidade de algo;
prognóstico: previsão do desenvolvimento de um processo;
sistema sinótico: fenômeno atmosférico de grande escala;
topografia: características dos contornos e acidentes geográficos de uma região;
WRF: Weather Research and Forecasting Model, modelo usado para pesquisas atmosféricas e previsão do tempo.
Esta entrevista foi idealizada e efetuada pela bolsista Gabriela Lima da Silva, estudante do Bacharelado em Meteorologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, através de um projeto de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo.
Tem dúvidas? Entre em contato pelo e-mail: gabriela_lima@usp.br
5.14 - Podemos estudar outros planetas com a Meteorologia?
A exploração espacial é um assunto que, inevitavelmente, intriga a todos nós. Ela está nos livros, filmes e séries sci-fi, está em nossos poemas e nossas músicas. Estudar e compreender mundos além do nosso é um esforço conjunto de todas as áreas do conhecimento. A Meteorologia é uma delas.
O Dr. João Rafael Dias foi estudante de Meteorologia aqui no IAG-USP e já trabalhou com a atmosfera de Vênus e de Titã, uma das luas de Saturno. Ele nos explicou porque utilizar a Meteorologia para estudar outros planetas é, além de interessante, muito importante.
A exploração espacial é tópico bem conhecido e prestigiado em geral, mesmo que alguns tenham apenas noções básicas de seu funcionamento. Porém, um meteorologista trabalhar com isso não é algo que é imaginado de primeira. Sendo assim, que trabalho um meteorologista pode desenvolver nessa área?
De forma geral, o campo de ciências planetárias compreende uma variedade muito grande de conhecimento. Eu vejo que um meteorologista pode atuar nessa área da mesma forma que, como eu vi, geólogos, geofísicos, físicos, astrônomos etc. É um campo multidisciplinar e dessa forma temos know-how para atuar numa área assim.
Além disso, com as competências adquiridas durante a nossa graduação (que gira grandemente em física da atmosfera) temos todo o ferramental teórico para conseguir atuar numa área de pesquisa tão diferente.
Adianto que para qualquer trabalho nessa área, o meteorologista deve estar ligado à alguma instituição de pesquisa, pois esse ramo é pesquisa básica. Eu vejo múltiplos caminhos sendo o mais frequente o estudo da dinâmica da atmosfera de outros planetas. Em suma é a aplicação dos conceitos dos cursos de Meteorologia Dinâmica com Modelagem numérica. Em instituições de fora, eles possuem acesso a dados das sondas que hoje orbitam diferentes corpos, com isso existem também diversos estudos “observacionais”.
Independentemente da forma, você terá dados e tentará modelar/explicar algum fenômeno de interesse.
Em uma entrevista, o Dr. Andrew Ingersoll, professor de Ciências Planetárias na Caltech, disse que “Estudando outros planetas—com sua ampla gama de personalidades e comportamentos—nós aprendemos sobre como atmosferas e como o tempo e clima funcionam em geral e obtemos um cenário e perspectiva muito maiores do que nós poderíamos ganhar estudando somente a Terra. A Terra teve idades do gelo—e isso é bastante interessante—mas não podemos olhar para as idades do gelo hoje a não ser por “proxies”. Mas nós podemos olhar para os planetas agora”. Você poderia comentar algo sobre isso?
Os comentários do Dr. Ingersoll são muito pertinentes. Mas eu diria mais além, estudar tanto a atmosfera como a superfície (dos planetas rochosos ou grandes corpos do nosso sistema solar) nos ajudam a entender a própria dinâmica do nosso planeta. Eles foram (e são) testemunhas de mudanças profundas que aconteceram há muito tempo, sendo que cada um teve uma história diferente. De todos, o que acho que é mais interessante é Marte. As assinaturas são claras: Marte já teve lagos, rios, mares. Mas, para onde foram? Para onde foi a maior parte de sua atmosfera? Que tipo de processo evolutivo aconteceu ali, como isso pode nos ajudar a entender a própria evolução da nossa atmosfera? Outro aspecto interessante são pesquisas voltadas a entender mudanças nos padrões gerais da circulação do nosso planeta num cenário de aquecimento global; o que tem lá fora que pode nos ajudar a montar o quebra cabeça? Sobre esses aspectos, eu não falo dos exoplanetas pois ainda estamos muito longe de obter dados de atmosfera, circulação etc que nos permitam fazer comparações com o nosso próprio planeta. Mas no futuro poderemos estudar Terras em diferentes estágios evolutivos lá fora.
Qual a sua relação com esse campo e como você começou a desenvolver suas pesquisas com corpos celestes diferentes da Terra?
Como muitos do departamento, comecei minha pesquisa com a iniciação científica (IC). Meu projeto IC foi voltado para dinâmica e sinótica. No mestrado também. Estudei, por vários anos, aspectos sinótico-dinâmicos de ciclogêneses na costa do Brasil. Me aprofundei bastante no ciclo de energia de Lorenz de diferentes sistemas e explorei um pouco aspectos de transição tropical e extratropical de sistemas aqui da Terra. No final, achei que seria interessante mudar um pouco de área. Dinâmica da atmosfera e circulação geral foram temas que sempre me fascinaram e por isso tentei mudar para outra área, mas mantendo esses dois elementos no projeto. Durante o mestrado participei bastante de congressos fora do país, e numa escola de inverno fiz amizade com uma mexicana que estudava a circulação da atmosfera de Vênus. Daquele momento em diante o assunto ficou muito presente e eu comecei a ler mais. Foi aí que eu comecei a ver que planetas gasosos possuem um padrão muito diferente de ventos, ao passo que Vênus é bem diferente da Terra e assim por diante. Estudando mais eu vi que as atmosferas planetárias são um laboratório para ver como diferentes regimes dinâmicos geram diferentes padrões de circulação geral. Nesse momento tive que escolher um tema, e escolhi um tema que tem muita pesquisa ainda hoje que é a superrotação atmosférica. Quando estava decidindo, resolvi tentar focar em Titã que curiosamente é uma lua de Saturno com atmosfera, com sistema hidrológico (chove metano lá), estações do ano e superrotação. Tive apoio de entrada no doutorado, tentei parceria no programa de astronomia, mas tudo foi muito difícil. No final consegui um estágio sanduíche na UCLA (University of California Los Angeles) que me possibilitou dar um norte para o trabalho. Fiz modelagem de atmosferas idealizadas sob regimes dinâmicos similares aos de Vênus e Titã. Estudei as ondas que se formam nesses regimes e as interações com o escoamento médio; fiz também análise do ciclo de energia de Lorenz. Foi um trabalho que começou muito difícil (não temos know how em projetos assim) mas que no final gerou resultados bem legais e dois artigos em revistas excelentes.
Em que lugares, no Brasil e no resto do mundo, um meteorologista pode desenvolver esse tipo de pesquisa?
Falar de Brasil hoje para pesquisas nesse tópico é muito difícil. Não temos parcerias internacionais, nem know how e pesquisadores capacitados para tal. Ao que me consta minha tese foi a única até agora no país a abordar um tema desse tipo. Sobre mundo a história é diferente. Europa e Estados Unidos possuem uma longa tradição em lançamentos de sondas e acompanhado a elas os estudos de atmosferas planetárias. Posso citar na Europa o Reino Unido e a França como excelentes centros de pesquisa, nos Estados Unidos, tanto universidades da Califórnia como do Arizona são bem fortes no assunto (existem diversas universidades com programas de pós em ciências planetárias); na Ásia, o Japão tem pesquisa bem importante. Para que uma área desse tipo cresça no país é necessária uma mistura de enorme boa vontade e parcerias, além da crença de que é necessário investir em temas assim.
Glossário:
Iniciação Científica (IC): Um programa para iniciar alunos de graduação na área acadêmica, realizando pesquisas com a orientação de um pesquisador. Pode ou não ser auxiliado por bolsas de fomento.
Estágio Sanduíche: Uma bolsa de estudo onde parte é feita em outra instituição, brasileira ou internacional.
Esta entrevista foi idealizada e efetuada pela bolsista Gabriela Lima da Silva, estudante do Bacharelado em Meteorologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, através de um projeto de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo.
Tem dúvidas? Entre em contato pelo e-mail: gabriela_lima@usp.br
5.15 - Meteorologia em empresa de seguro!
Estamos na Era da Informação. Se antes corríamos atrás de ouro ou terras aleatoriamente, hoje sabemos que o conhecimento pode dar grande vantagem para uma empreitada. Mas além de colocar na dianteira, uma informação precisa é capaz de evitar danos que podem ser previstos.
Está fora de nossa mãos controlar os fenômenos naturais, mas ainda podemos prevê-los. Realizar esse tipo de análise, entre outras, é papel do meteorologista e transmitir essa informação é papel da seguradora!
O meteorologista Tássio Costa, formado aqui no IAG, respondeu algumas perguntas para nos ajudar a entender mais sobre isso.
Qual o papel da meteorologia dentro de uma seguradora? Qual a importância desse tipo de atividade no Brasil?
Fenômenos meteorológicos influenciam e afetam a vida de todos, direta ou indiretamente. Tornar a sociedade mais resiliente a esse tipo de evento é um dos principais objetivos das seguradoras. Furacões afetando construções e interrompendo as atividades de empresas, estiagens causando quebras de safra na agricultura, falta de vento em um parque eólico são apenas alguns exemplos que evidenciam a importância da meteorologia dentro de uma seguradora.
Como funciona a sua rotina como meteorologista na empresa?
Um meteorologista pode se envolver em projetos direcionados aos diferentes ramos de uma seguradora, por exemplo produzindo mapas de risco e monitoramento de eventos severos. Outra forma de atuação seria através das áreas de subscrição e precificação da seguradora. Subscritores são, em linhas gerais, os profissionais responsáveis por avaliar os riscos e, através de técnicas atuariais, estabelecer condições de cobertura e preço dos produtos a serem oferecidos no mercado. Os ramos que são significativamente afetados por eventos meteorológicos, como o agrícola, podem se beneficiar ao ter um meteorologista na equipe.
Pode dar alguma dica para os futuros meteorologistas interessados na área?
Automatização e tecnologia têm se tornado fundamentais nas empresas. Nesse sentido, a formação em meteorologia - que demanda conhecimentos em lógica de programação - pode ser um grande diferencial, não só na área de seguros como também para inúmeros outros ramos. Especificamente para o mercado de seguros, é fundamental ter uma base sólida em estatística. Então a minha dica seria: estudem programação e estatística, e estejam sempre atualizados com as tecnologias mais recentes no mercado.
Tem dúvidas? Entre em contato pelo e-mail: gabriela_lima@usp.br
5.16 - Um meteorologista ajudou a carregar seu celular
Viver sem energia elétrica se tornou impossível. Somos totalmente dependentes de usinas distantes que transformam energia de diversas fontes (água, ar, carvão, gás natural) em energia elétrica, e de cabos que transportam essa energia para nossa casa.
Já parou para pensar que nossas fontes primárias de energia, em sua maioria, estão ligadas à meteorologia? De que serve uma usina hidrelétrica se não houver água por conta de uma seca? E turbinas eólicas em um lugar sem vento? Energia solar na sombra?
A geração de energia é uma área que necessita de meteorologistas a postos. Seja para avaliações antes de sua implantação e até durante seu funcionamento. Eficiência em primeiro lugar!
Quem vai nos explicar mais sobre esse mundo é a Simone Valarini, formada em meteorologia aqui no IAG-USP e que hoje trabalha na AES Tietê. Confira abaixo!
1) Como funciona a matriz energética brasileira hoje?
Hoje a matriz energética brasileira ou sistema interligado nacional (SIN) é composta por:
- 65,2 % de hidroelétrica;
- 10,5 % de gás natural;
- 8,2 % de biomassa;
- 6,9 % de solar e eólica;
- 6,6 % de carvão e derivados de petróleo;
- 2,6 % de nuclear.
Isso significa que ~82 % da nossa matriz elétrica é composta por fontes renováveis.
2) A instalação de usinas geradoras é feita levando em conta a máxima eficiência, por isso é necessário um conhecimento do clima local. Porém, o clima é uma média das variáveis meteorológicas durante muito tempo. Sendo assim, o tempo pode muito bem se comportar de forma bastante diferente da média em algum momento. Qual poderia ser a influência do tempo em diferentes tipos de usinas?
Na verdade, isso vem ocorrendo nos últimos anos. A base da nossa matriz elétrica são as usinas hidráulicas e a maioria delas foram construídas com reservatório na zona das ZCAS. Qual era o objetivo? Nos meses de verão, essas usinas além de gerar, armazenavam água nos seus reservatórios e durante o inverno, essa água armazenada era utilizada. Mas devido ao bloqueio que ocorreu nos anos de 2014 e 2015 e as chuvas que estão ficando abaixo da média durante o verão, onde os principais reservatórios estão localizados, estes estão baixos e é necessário armazenar a pouca água para momentos mais críticos. Com isso, utilizam-se mais as usinas térmicas.
As usinas novas (Belo Monte, Jirau, Santo Antônio) têm ajudado muito o SIN durante o verão. Pois é a época que elas mais geram energia e conseguem transmitir essa energia para o NE e SE. Mas há dois problemas aí:
1. Essas usinas são a fio d´água, ou seja, elas não conseguem armazenar água para momentos mais críticos; 2. No momento, não temos linhas de transmissão suficientes para levar toda a energia gerada para outros submercados, e com isso, o país acaba jogando energia fora.
As eólicas do NE vieram como uma forma de complementar o sistema. No meio do ano, quando as chuvas se tornam mais escassas, é o momento quando as eólicas geram mais. Isso é muito bom, pois o NE não precisa depender da importação de energia do SE (evita que o reservatório seja esvaziado mais do que o necessário) e tão pouco utilizar as usinas térmicas, que são muito mais caras e poluidoras.
---
Nota: você já prestou atenção na fatura de energia elétrica (conta de luz) de sua casa ou ouviu no noticiário sobre a adoção da bandeira vermelha? Notou que, neste caso, o valor cobrado é maior? Então, a bandeira tarifária muda de verde (quando somente as usinas hidrelétricas são operadas) para amarela e vermelha (quando, além das hidrelétricas, as usinas térmicas também estão em operação. Quanto mais usinas térmicas precisam ser ligadas, mais cara a conta final).
---
3) As usinas geradoras possuem meteorologistas próprios ou recebem boletins de outras empresas?
A maioria das Geradoras de energia recebem o boletim do ONS (Operador Nacional do Sistema elétrico). O ONS é o órgão responsável por falar para cada Gerador quanto ele irá gerar em suas usinas. O ONS possui uma equipe de meteorologistas, hidrólogos, engenheiros que fazem o possível para otimizar a geração.
4) Hoje você trabalha na AES Tietê. O que essa empresa faz e qual seu papel como meteorologista nela?
A empresa tem usinas hidroelétricas na bacia do Tietê e do Grande (São Paulo e Minas Gerais, respectivamente), eólica (Alto Sertão II - Bahia), solar (Guaimbê- São Paulo) e a térmica de Uruguaiana (Rio Grande do Sul).
Mas meu papel na empresa é muito distante da operação. Eu faço parte do planejamento energético e apenas um dos meus trabalhos (~ 30 %) inclui meteorologia. Eu sou responsável por acompanhar as mudanças do setor (se tem usina entrando, se a demanda por energia sofreu alterações, etc.) e simular essas mudanças usando os modelos de otimização próprio do setor (modelos estatísticos), vendo o impacto no preço. Para simular esse impacto, eu faço um acompanhamento da previsão, para ver se haverá chuva ou se devo esperar que os próximos meses sejam mais secos/molhados. E com base nisso, a empresa faz sua projeção de ganho para venda de energia. Essa parte funciona mais como uma bolsa de valores, tentamos comprar/vender quando a energia está baixa/alta e vender/comprar quando a energia está alta/baixa. É assim que a empresa ganha dinheiro.
5) Qual seria sua dica para os futuros meteorologistas que desejam entrar para o mercado de trabalho nessa área?
É um mercado muito bom e está em alta. Percebo que meteorologista virou artigo de luxo e objeto de desejo nesse setor. Hoje não há tantas geradoras, mas há muitas comercializadoras (que são pequenas bolsas de valores, mas não possuem ativos imobilizados) e elas estão investindo em meteorologistas. Mas os meteorologistas que querem entrar nesse setor, precisam se despedir um pouco da meteorologia também, pois dificilmente serão 100 % meteorologistas e serão registrados como tal. Eles (assim como eu) são registrados como analistas pois atuam em outras tarefas, além da previsão de tempo e clima, como pesquisa operacional, otimização energética, regulação, etc. Outra coisa, tem que estar disposto a aprender muita coisa nova e é bem útil quando sabem mexer no Excel (não falo de programar em VBA – se souber, excelente –, mas de saber funções como procv, if, somase, etc. são essenciais). Com isso, o meteorologista consegue se impor no mercado e conseguir promoções e, se for o caso, mudar de empresa com um salário melhor (o que era, praticamente impossível, alguns anos atrás).
Glossário:
bloqueio: anomalia quase estacionária na pressão em altos níveis que interrompe o padrão de escoamento atmosférico e desvia a direção da circulação, podendo durar vários dias;
ZCAS: Zona de Convergência do Atlântico Sul, é o principal sistema meteorológico de verão no Brasil, sendo caracterizado por uma faixa de nebulosidade que se estende desde o sul da região amazônica até o centro do Atlântico Sul, responsável por chuvas em grande parte do país;
VBA: Virtual Basic for Application, linguagem de programação do Microsoft Excel que permite que o usuário tenha mais recursos na análise de planilhas;
procv, if e somase: funções do Excel.
Tem dúvidas? Entre em contato pelo e-mail: gabriela_lima@usp.br
5.17 - Sensoriamento Remoto e Meteorologia
Os sensores remotos são tecnologias capazes de realizar medições sem ter contato direto com o objeto de estudo. A mais famosa dessas tecnologias é o satélite artificial. O primeiro satélite lançado foi o Sputnik 1, em 1957, em um contexto de guerra fria. Com o passar do tempo, foram sendo lançados mais satélites com objetivos de monitorar, entre outras coisas, o tempo e clima do planeta. O primeiro satélite lançado com o objetivo de estudar a atmosfera foi o canadense Alouette, responsável por analisar a ionosfera.
Os satélites utilizam seus sensores para medir interações entre a radiação eletromagnética e a matéria. Os dados obtidos permitem que os meteorologistas possam prever e monitorar as condições meteorológicas.
A evolução exponencial da tecnologia dos satélites permite previsões cada vez mais precisas e estudos mais profundos, fazendo com que a área se aperfeiçoe mais.
Quer saber mais sobre o que um meteorologista pode fazer nessa área? Então confira a entrevista do Thiago Biscaro, formado aqui no IAG e hoje Pesquisador Assistente da Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais (DSA) do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
A Meteorologia é uma das ciências que mais se beneficia com a aplicação de sensoriamento remoto. Hoje em dia, qual é exatamente a função dessa tecnologia nessa área?
O sensoriamento remoto é de muita importância para a meteorologia, especialmente sobre oceanos e países de dimensões continentais como o Brasil. Temos áreas de difícil acesso para instalação de instrumentos e falta de verba tanto para compra quanto para manutenção desses instrumentos. Um exemplo: o INMET opera 500 pluviômetros hoje em média, o que se colocados todos juntos, cobrem uma área menor do que a de o teto de um container de 40 pés. Há 100 mil pluviômetros no planeta que enviam informações para o sistema global de assimilação de dados, a área total coberta por eles é 2/3 da área de um campo de futebol padrão FIFA. Com apenas um radar conseguimos cobrir uma área 2 milhões de vezes maior. Com um satélite podemos cobrir o país todo.
Temos know-how para desenvolver sensores e satélites aqui no Brasil? Um meteorologista poderia contribuir para esse desenvolvimento?
Temos parcerias que nos levaram ao desenvolvimento do CBERS, com a China, por exemplo, e o projeto Amazônia-1, que será o primeiro satélite de observação da Terra integralmente projetado, montado e testado no Brasil. Por outro lado, não temos um foguete para lançá-lo, o centro de Alcântara não suporta um veículo do tamanho necessário para um satélite de médio-grande porte e nosso desenvolvimento de sensores mais complexos ainda necessita de aprimoramento. A melhor alternativa a curto prazo para não dependermos de informação de satélites estrangeiros seria comprar sensores e satélites e pagar o lançamento através de veículos estrangeiros. Mas temos o conhecimento teórico/técnico e boas instalações – não para o desenvolvimento de um satélite geoestacionário por enquanto – mas suficientes para desenvolvimento de satélites de órbita polar. Sim, o auxílio de um meteorologista é fundamental no desenvolvimento de um sensor, pois é ele quem especifica qual a utilidade que o sensor terá.
Quem pode fazer o uso das informações fornecidas por satélites no Brasil?
Toda a população em geral pode fazer uso dessas informações. Diversas plataformas de uso simples, como os aplicativos SOS-Chuva e MAPSat, desenvolvidos aqui no CPTEC-INPE, não fazem uso de termos técnicos complexos e contém vídeos e textos explicativos. Em um nível mais aprofundado, operadores da defesa civil e centros regionais de meteorologia podem se utilizar de informações mais detalhadas para emissão de alertas de tempo severo. E é claro, previsores de tempo, cuja informação gerada pelos satélites é de extrema importância.
Você trabalha na Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais, do CPTEC-INPE. O que essa divisão faz? Qual seu papel como meteorologista nela?
A DSA desenvolve pesquisa na área de sensoriamento remoto da atmosfera (satélites e radares), além de radiação atmosférica – tanto estudos teóricos e de modelagem quanto observacionais, e pesquisa aplicada nessas áreas, como desenvolvimento de produtos de precipitação por satélite, nowcasting (previsão de curtíssimo prazo), produtos de satélite aplicados a oceanografia, estimativa de vento por satélites, classificação de nuvens, entre outros. Eu, como pesquisador da DSA, tenho trabalhado principalmente com a área de Meteorologia por Radar e Nowcasting.
Você poderia dar uma dica para os futuros meteorologistas interessados na área?
Ter bom conhecimento de radiação atmosférica e de como é a interação das ondas eletromagnéticas em diferentes faixas do espectro – visível, IR, micro-ondas – com os constituintes atmosféricos (gases, vapor d’água) e hidrometeoros. Saber os problemas e restrições (são muitos) das observações de radares e da conversão da informação gerada pelo radar em algo útil como taxa de precipitação.
Glossário:
assimilação de dados: técnica que permite inserir dados observacionais em modelos de estimação, como os usados em previsão do tempo;
CBERS: Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres;
hidrometeoro: corpos constituídos por água e gelo suspensos na atmosfera, como chuva e neve;
INMET: Instituto Nacional de Meteorologia;
IR: infravermelho, espectro de radiação localizado próximo à cor vermelha, com comprimento de onda maior;
pé: unidade de medida de comprimento, equivale a 30,48 centímetros;
pluviômetro: instrumento meteorológico utilizado para medir a quantidade de chuva em um local;
5.18 - A Meteorologia nos Esportes
Nosso dia-a-dia está recheado de atividades intimamente ligadas com a meteorologia. Porém, essa dependência não é tão visível às vezes.
Por exemplo, uma das atividades favoritas do brasileiro é praticar esportes. Para alguém que joga apenas por lazer a conexão com meteorologia pode parecer distante, como a chuva que atrapalha ou o calor que faz cansar rápido. Mas, para esportistas profissionais, a visão é outra!
Para discutir esse assunto convidamos o João Hackerott, meteorologista formado pelo IAG e praticante da vela, esporte com barcos propulsionados apenas pela força do vento! Confira!
Como as condições meteorológicas podem afetar um evento esportivo, seja ele terrestre, aquático ou aéreo?
Qualquer evento outdoor, seja esportivo ou não, gera apreensão nos organizadores e participantes, trazendo à tona a famosa pergunta: "será que vai fazer tempo bom?". Na empresa em que trabalho, Tempo OK, temos recebido demandas de shows, empresas de turismo para esportes de aventura (principalmente saltos), empresas que organizam corridas de carro e empresas de eventos náuticos e aquáticos. Lembro que no ano passado fizemos até um trabalho para uma maratona aquática no litoral Paulista!
Na maioria dos eventos, a principal preocupação é a condição de chuva, isto é, se irá ou não chover ou ter tempestade. Mas outros, como eventos esportivos outdoor, têm grande preocupação com o vento também. Estes fatores meteorológicos interferem no planejamento dos eventos, seja para os organizadores ou para os participantes.
O conforto térmico dos atletas afeta diretamente seu rendimento. Isso é levado em conta em treinos ou em competições?
Sim, o conforto térmico influencia no desempenho dos atletas, mas isso costuma impactar todos de forma igual, não prejudicando ou favorecendo um ou outro atleta dentro de uma partida. Isto é, as condições estão lá para todos. Hoje em dia, geralmente temos materiais, seja roupa ou equipamento, adequados para todas as condições, então temperatura não costuma impactar muito. Mesmo assim, eu diria que psicologicamente, um atleta que está preparado para uma mudança de tempo ao longo de uma partida estará muito melhor que aquele que não saberia da mudança. Ninguém gosta de ser pego desprevenidamente. Eu já vi caso de velejador que foi à competição sem casaco e o vento esfriou repentinamente, prejudicando muito o desempenho dele.
Com relação aos treinos, acredito que não afeta muito. Bons atletas irão treinar faça chuva ou faça sol, faça frio ou faça calor. E geralmente a maioria prefere condições adversas em treinos, por aumentar os desafios. Isso, claro, em esportes mais tranquilos. Um saltador, por exemplo, certamente não irá treinar um voo em um dia adverso...
Quando um time precisa competir em um local com condições meteorológicas muito diferentes é feita alguma preparação?
Sim, geralmente há um tempo de adaptação. No caso da Vela, os atletas costumam viajar para o local com pelo menos uma semana de antecedência, para já ir se acostumando com as condições. Em casos de eventos em lugares sabidamente conhecidos, com determinadas condições, os atletas já programam seu treinamentos para horários com condições mais semelhantes. Por exemplo, nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, já era sabido que as provas de vela seriam em um lugar conhecido por ventos fracos. Então, nos dois anos que antecederam o evento, era comum você ver atletas de alto desempenho treinando pela manhã no Rio de Janeiro e em São Paulo, antes da entrada da brisa marítima, justamente para simular as condições de Pequim.
O Brasil é um dos países com maior incidência de raios, de acordo com levantamento do INPE, e não é uma surpresa muito grande quando um raio cai no meio de um estádio. Para evitar situações como essa, é feita a consulta da previsão do tempo?
Com certeza. Este ano, o Lollapalooza foi interrompido por cerca de duas horas e o autódromo de Interlagos foi esvaziado pois havia incidência de raios nas proximidades. Naturalmente, nós não temos precisão suficiente nas previsões para cancelar um evento por incidência de raios com alguns dias de antecedência. Isso seria uma irresponsabilidade no meu ponto de vista. Mas é nosso dever avisar a organização sobre a possibilidade de um evento extremo e, para essa possibilidade, há previsibilidade. Os alertas fazem toda a diferença, pois melhora o planejamento evitando surpresas.
É possível unir meteorologia e esporte na carreira profissional?
Eu tenho tentado unir essas duas coisas, mas confesso que não é fácil. Eu fui velejador profissional enquanto cursava a graduação. Hoje, na empresa, tenho menos tempo para velejar, principalmente porque ela está em fase de expansão, mas sigo praticando o esporte nos finais de semanas e feriados. Diferente de outros esportes como natação e atletismo, a vela é um esporte que exige menos esforço físico e mais mental, principalmente se for em um veleiro coletivo. Eu e minha irmã começamos a velejar recentemente numa categoria de dupla mista. Estamos visando as Olimpíadas de 2024, ou seja, um plano de médio a longo prazo. Eu acredito que será sim possível unir a carreira e o esporte. Eu sempre digo que um bom velejador é um bom meteorologista, pois a elaboração da tática de regata é, no fundo, uma previsão meteorológica para as próximas horas ou minutos. Espero que o inverso possa ser verdadeiro também hehehe!
5.19 - Meteorologia e Aeronáutica
Aviões são o segundo método de transporte mais seguro do mundo, perdendo apenas para o elevador! E isso não é à toa. Engenheiros e pesquisadores buscam desenvolver equipamentos mais resistentes, precisos e seguros. Mas essa tecnologia toda não seria nada se tivéssemos de voar às cegas pelo ar, sem nenhuma informação meteorológica.
Graças à Meteorologia Aeronáutica os vôos são calculados para enfrentarem a menor quantidade de riscos possíveis, salvando tempo e até mesmo vidas. As empresas que atuam nesse ramo oferecem aos aeroportos relatórios detalhados de dados meteorológicos observados e colhidos ou previstos pelos meteorologistas. Assim, os responsáveis pelo vôo ficam conscientes de fenômenos como rajadas e cortantes de vento, trovoadas, turbulência, gelo, nuvens com grande desenvolvimento vertical, como a Cumulonimbus, e até mesmo cinzas vulcânicas.
Para nos ajudar a entender mais sobre o que um meteorologista pode fazer nesse ramo, o Hiremar Soares, formado em Meteorologia pelo IAG, esclareceu algumas dúvidas!
A aplicação dos conhecimentos e técnicas da Meteorologia é fundamental para a aeronáutica. Sendo assim, qual são as responsabilidades e atuações que um meteorologista pode ter nessa área?
Um meteorologista no campo aeronáutico tem como principal função a proteção ao voo, visando a segurança, economia e eficiência. Portanto, o monitoramento, em tempo real das condições adversas como trovoada, precipitação, nebulosidade, vento e pressão atmosférica, são de fundamental importância para as operações de pouso e decolagem em aeródromos. Para tal, o Meteorologista que trabalha em um Centro Meteorológico de Aeródromo (previsor) confecciona mensagens como GAMET, TAF, Avisos de Aeródromo (AD ADVISORY), Avisos de WINDSHEAR (WS WRNG) dentre outros, que dão suporte aos Órgãos de Tráfego aéreo e à aviação (empresas e aeronaves).
As observações e previsões meteorológicas voltadas para fins aeronáuticos no Brasil são realizadas por quais entidades? Elas são apenas públicas e militares, ou existem empresas privadas que realizam esses estudos?
Há várias empresas que direta ou indiretamente dão suporte à aviação, no campo meteorológico. A maior parte é pública: Força Aérea Brasileira (FAB), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/CPTEC), Universidades Públicas (USP e UFRJ), a INFRAERO e o INMET, através de seus estudos em modelagem, os previsores aeronáuticos da FAB e INFRAERO se utilizam de seus estudos e previsões. Porém, há empresas privadas, que mesmo não-especializadas na área aeronáutica, podem dar suporte através de seus produtos (SOMAR e CLIMATEMPO). A SOMAR, indiretamente, presta assistência à aviação agrícola, por exemplo. Porém, de forma direta, realmente é a FAB e INFRAERO, através de suas redes de centros e estações meteorológicas. Aliás, o Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), pertencente ao Comando da Aeronáutica, presta grande serviço em pesquisas e climatologia para a própria FAB e órgãos públicos e privados. Ele possui dados desde 1951 de alguns aeroportos brasileiros.
Os previsores, além de cuidar dos aeroportos (pouso e decolagem), também utilizam modelagem, imagem de satélite e radar meteorológico para monitorar (em tempo real) e fazer mensagens de previsão (SIGMET, AIRMET) para auxiliar as aeronaves em rota. Monitoram Correntes de Jato, cruzamento da ITCZ (ou ZCIT), CCM, ZCAS, etc.
Agora, foi formado o Centro Integrado de Meteorologia Aeronáutica (CIMAER) que irá centralizar os profissionais da FAB, e futuramente da INFRAERO, em um único órgão, para fins de estudos e previsões. Ele irá monitorar a aviação de todo Brasil no campo aeronáutico.
Um meteorologista pode prestar serviços a organizações militares para esses fins sendo um civil?
Sim. Pode! A INFRAERO é um grande exemplo. Porém, precisa fazer um curso específico chamado MET 001 (meteorologista) e MET 016 (técnico em meteorologia), para poder exercer funções aeronáuticas no Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro-SISCEAB, ou seja, para ser previsor aeronáutico. Este curso é ministrado no ICEA.
Qual a sua experiência com essa área? As suas graduações, mais particularmente em meteorologia, foram voltadas para esse tema?
Como sou graduado (sargento) e não oficial da FAB, não posso exercer, dentro da Força, a função de previsor. Para isso teria de fazer a prova para oficial e fazer um curso de 2 anos para poder exercer tal função.
Mas auxilio o controle de tráfego aéreo do eixo Rio-São Paulo, com informações, em tempo real, com relação a tempo adverso, que causa risco à aviação. Tenho a função de participar da investigação de acidentes aeronáuticos (como especialista em meteorologia), trato de filtrar e verificar a qualidade das informações meteorológicas (METAR) que são inseridas nos aeroportos sob responsabilidade do Serviço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo (SRPV-SP), ou seja, alguns aeroportos de São Paulo até o Rio de Janeiro. Além, do mais, respondo com relatórios técnicos para pedidos judiciais com relação a meteorologia – aviação.
A graduação na USP não prioriza a Meteorologia Aeronáutica, mas não é negligente. Ela abrange este tema através de algumas aulas de Meteorologia Sinótica (laboratório). Mesmo assim, seria interessante uma matéria optativa nesta área, como havia antigamente na época do prof. Vilela. É uma área muito grande e poucos profissionais especializados. Em outros países, há muitas áreas de pesquisa. Como tive liberdade para estudo, no mestrado, no IAG, tive a possibilidade de estudar o SODAR e produzir um trabalho voltado para a área da Aviação. O que me deixou muito satisfeito e agradecido pelo apoio dos professores.
Glossário:
GAMET, TAF, SIGMET, AIRMET, METAR: tipos de códigos utilizados na previsão meteorológica para aeroportos e aeródromos;
WINDSHEAR (WS WRNG): cortante de vento, uma variação rápida na direção ou velocidade do vento;
SODAR: instrumento meteorológico que mede a velocidade do vento;
ZCIT: Zona de Convergência Intertropical, sistema meteorológico caracterizado por uma faixa de baixa pressão e convergência dos ventos alísios próximos ao equador;
CCM: Complexo Convectivo de Mesoescala, pode ser observado por imagens de satélite no canal do infravermelho, associados com chuvas fortes, granizo e até tornado;
ZCAS: Zona de Convergência do Atlântico Sul, é o principal sistema meteorológico de verão no Brasil, sendo caracterizado por uma faixa de nebulosidade que se estende desde o sul da região amazônica até o centro do Atlântico Sul, responsável por chuvas em grande parte do país;
INMET: Instituto Nacional de Meteorologia.
5.20 - As Irmãs Meteorologia e Oceanografia
A Meteorologia e a Oceanografia são áreas praticamente irmãs. Enquanto o fluido estudado por uma é o ar, o da outra é a água. As principais equações que envolvem seus estudos são as de dinâmica e termodinâmica. Além disso, seus estudos são codependentes: o oceano influencia a atmosfera e a atmosfera influencia o oceano. Então, por que não juntar as duas áreas?
O professor responsável por lecionar a matéria introdutória do curso de Bacharelado em Meteorologia no IAG-USP é o Ricardo de Camargo. Ele é bacharel em Física, mestre em Oceanografia e doutor em Meteorologia, tudo pela USP. Por conta da abrangência de áreas do seu conhecimento, pedimos sua ajuda para nos esclarecer qual a conexão entre meteorologia e oceanografia.
O professor começa nos explicando como, no bacharelado em Física, enxergou a aplicação na atmosfera e nos oceanos. Seu primeiro trabalho foi com dados de nível do mar do Porto de Santos, estudando as variações do nível do mar que perduram por vários dias e não são causadas pela maré astronômica. Ele gostava do universo que se abria quando se juntavam informações como temperatura, salinidade, onda, vento e corrente.
Para quem sente afinidade com Meteorologia e Oceanografia, ele nos conta sobre a área de Metocean, cujos estudos são necessários em projetos de engenharia em lugares costeiros e offshore. É uma área ligada, direta ou indiretamente, à portuária, rotas, transporte de carga ou mesmo de passageiros.
Dados de Metocean são utilizados em portos mundo afora, com sistemas que utilizam previsão de vento e onda para otimizar as rotas de acordo com a carga, lugares onde o navio irá sair e chegar e etc.
Em Sicília e Gênova, por exemplo, o movimento é muito fechado. Mas é preciso fazer previsões do tempo porque, apesar do Mar Mediterrâneo ser fechado ou semi-fechado há uma saída, e o tempo pode se fechar lá dentro e gerar muita onda. Esse tipo de informação é muito valioso para empresas como a Petrobrás e outras petroleiras, que são clientes de outras empresas de rebocadores de navio, ou até mesmo para prestadores de serviço, como fundição de estruturas e montagem que não são possíveis de realizar com muito vento e onda. Esse tipo de serviço é de previsão, mas vai mais além, pois se trata também de aplicação de informação.
Existem portos tecnologicamente avançados, como o Porto de Rotterdam, na Holanda, onde há sistemas de medições internos para evitar quaisquer tipos de acidente e com dados divulgados para todos que vão navegar ali. Segundo ele, são preocupações inerentes a esse tipo de atividade.
Ressaltando a importância da área de aplicação, ele nos conta sobre uma empresa formada por alunos do Instituto Oceanográfico da USP, que ficou incubada, ou seja, teve seu desenvolvimento inicial apoiado pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP, chamada SIAA - Soluções Integradas em Ambientes Aquáticos, e que faz contato com meteorologistas. Criada em 2014, com fomento da FAPESP, por meio do PIPE, utiliza modelos numéricos e inteligência artificial na previsão e monitoramento ambiental em áreas marítimas.
“Têm uma vertente desse lado de meteo-oceano-portuária, ou de navegação, que possui muito mais o lado aplicado do que o lado científico. Mas muitas dessas demandas geram medições. E por trás dessas medidas vem uma ciência. Você descobre algum comportamento.”
Toda obra que tem uma intervenção considerável, inclusive em portos, precisa de licenciamento ambiental, que considera impactos não só na vegetação e nos sistemas aquáticos, mas também nas comunidades que habitam perto. Alguns dos estudos necessários de viabilidade e executabilidade, como o EIA e o RIMA, precisam de alguém que entenda da área de chuva, vento, e é aí que o meteorologista se encaixa. As empresas construtoras subcontratam consultoras que possuem equipes de meteorologistas.
Por conta da crise econômica, a área não expandiu tanto quanto ele esperava, apesar de ter acontecido uma demanda grande desse tipo de serviço. Na área acadêmica, ele nos dá o exemplo da parceria entre engenheiros, oceanógrafos e meteorologistas na Engenharia Oceânica da Coppe - Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Sobre realizar ciência de base, que é a pesquisa feita sem preocupação de aplicação, mas para desvendar como funciona o objeto de estudo, sua opinião é que: “Existe muito projeto na engenharia que precisa de ciência básica também, é tudo uma questão de você conseguir se encaixar.” Estudos assim são fomentados por empresas como a Petrobrás, e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas.
O pensamento do professor para o futuro dessas ciências é a volta da interdisciplinaridade, perdida com o desenvolvimento de áreas do conhecimento cada vez mais específicas. Ele cita o exemplo da matéria de Física Médica que cursou no bacharelado, que surgiu com o incentivo da aplicação em seres humanos de técnicas de medição que eram inicialmente coisas da ciência de estrutura dos materiais.
A dependência entre oceano e atmosfera é cada vez mais evidente, e modelos de grandes centros de previsão já fazem esse acoplamento em escala global. Entender essas interações contribui enormemente para a evolução da área, com novas observações, teorias e formas de enxergar.
No curso de Meteorologia da USP, os alunos cursam uma disciplina obrigatória de Oceanografia Física, isto é, a parte da oceanografia que estuda os processos físicos no oceano e que é a mais dependente da meteorologia. Além dessa, existem disciplinas optativas como Oceanografia Por Satélites, Massas de Água e Frentes Oceânicas, Ondas no Mar e Meteorologia Sinótica e Aplicações à Oceanografia.
O meteorologista precisa saber um pouco sobre oceano, e, dependendo de sua área de estudo, alguns, mais que pouco. Pode-se fazer um redirecionamento através de uma monografia ou um estágio.
É preciso que exista disposição para fazer essa assimilação de conhecimentos, para enxergar a conexão entre áreas e encarar os desafios que elas proporcionam.
Glossário:
FAPESP: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo;
PIPE: Programa de Incentivo a Pequenas Empresas;
EIA e RIMA: relatórios de impacto ambiental que devem ser realizados para avaliar as consequências de um projeto.
5.21 - Como um barômetro mede a pressão?
Através dessa força a coluna interior subirá ou descerá, indicando a pressão local.
5.22 - Qual a diferença entre um termômetro e um termógrafo?
5.23 - Em algumas cartas sinóticas observamos valores de geopotencial, o que é isso?
Por exemplo, se estivermos analisando uma carta de 500hPa, os valores do geopotencial representarão a altura da superfície até 500hPa.
6 - Referências