A História da Estação Meteorológica
A Estação Meteorológica foi a precursora dos serviços regulares do Instituto Astronômico e
Geofísico no Parque do Estado, bairro da Água Funda. Foi inaugurada em 22 de novembro de 1932, no local onde se
realizavam as obras do novo Observatório Astronômico de São Paulo, e onde permanece até hoje. Tinha por finalidade
substituir a Estação Meteorológica Central da rede de estações do Serviço Meteorológico do Estado de São Paulo,
na época instalada no antigo Observatório de São Paulo situado na Avenida Paulista No.69, que era a sede do referido
Serviço. A Estação Meteorológica Central do Serviço Meteorológico tinha iniciado suas observações em 1895,
instalada no teto do edifício da Escola Normal da Praça da República, hoje Secretaria da Educação do Estado de
São Paulo. Ali permaneceu até 1912, quando foi transferida para o observatório de São Paulo da Avenida Paulista.
No passado, quando se fez a escolha do local para a construção do antigo Observatório de São Paulo, foi
levada em consideração a existência de um Posto Meteorológico da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de
São Paulo, que funcionava desde 1902 na residência do Dr. José Nunes Belfort Mattos (funcionário da
Comissão e que mais tarde viria a ser o Diretor do Observatório de São Paulo), situado na Avenida Paulista no 101,
com o nome de "Observatório da Avenida", onde também eram realizadas observações astronômicas.
Desse modo, as observações meteorológicas iniciadas em 1902 teriam continuidade na Estação Meteorológica Central,
com aproveitamento da série climatológica já existente.
Com a decisão de se transferir o antigo Observatório de São Paulo para o Parque do Estado, foi
necessário tomar precauções para que a série climatológica obtida na Avenida Paulista não perdesse a conexão
com uma nova série que viria a ser iniciada naquele local, realizando observações horárias conjuntas por um
período de pelo menos dois anos seguidos, o que foi feito entre 1932 e 1936. No caso da série pluviométrica,
isto foi de fundamental importância pois, em um estudo posterior da correlação entre os dois postos pluviométricos,
foi encontrado um coeficiente bem próximo da unidade, o que permitiu a conexão das duas séries que juntas abrangem
um período de noventa anos caracterizando uma das poucas séries pluviométricas de longo período existentes no Brasil.
Convém lembrar também, que a referida série de totais mensais, não apresenta nenhuma lacuna em toda sua extensão.
Em 1941, com a encampação dos Serviços Meteorológicos Estaduais pelo Governo Federal, a Estação Meteorológíca do
IAG-USP deixou de fazer parte da rede, permanecendo como estação isolada, mais direcionada para a pesquisa.
A Estação Meteorológica encontra-se registrada junto à Organização Meteorológica Mundial sob o número 83004. Ela é constituída de um cercado meteorológico, de um conjunto de salas no terraço do edifício da administração do Parque de Ciência e Tecnologia da USP e de uma torre no alto deste mesmo edifício. Em termos geográficos, tanto o cercado quanto o edifício encontram-se nos arredores de um marco correspondente à latitude 23°39'S e à longitude 46°37'W. Estas instalações tem sido praticamente as mesmas desde o início de nossas atividades, na remota manhã de 22 de novembro de 1932.
Além de coletar, tratar e disseminar suas observações de superfície, e de receber visitantes de todas as faixas escolares ao longo do ano, a Estação Meteorológica tem auxiliado nas aulas práticas do curso de Bacharelado em Meteorologia da USP.
Com o objetivo de preservar a história da Estação Meteorológica do IAG-USP, foi fundado oficialmente, em 22 de Novembro de 2012, o Museu de Meteorologia. Na ocasião, a Estação Meteorológica do IAG-USP completava 80 anos de história. O Museu de Meteorologia funciona no prédio 9 do Parque de Ciência e Tecnologia e faz parte do roteiro de visitações. Nos parágrafos a seguir, disponibilizados informações sobre o Museu de Meteorologia. O material foi organizado por Lucas Cantos, estagiário do Programa Aprender com Cultura e Extensão da USP
Museu de Meteorologia - Histórico e acervo
1 - Inicio de Serviço Meteorológico em São Paulo
O astrônomo português Bento Sanches Dorta realizou as 'Observações Astronômicas e Meteorológicas na Cidade de São Paulo, América Meridional' entre 1788 e 1789, e o 'Diário Physico-Meteorológico de Outubro, Novembro e Dezembro de 1788 da Cidade de São Paulo', foram as primeiras observações meteorológicas realizadas na capital.
Entre 1845 e 1858 foram realizadas as 'Observações Termométricas' pelo Brigadeiro José Joaquim Machado de Oliveira com duas leituras diárias termométricas às 6 e às 15 horas.
Frei Germano de Annecy entre 1870 e 1875, fez um esboço do clima da capital, e Henry Joiner realizou observações meteorológicas entre 1879 e 1882, publicadas no 'Quarterly Journal of The Royal Meteorological Society' em Londres.
Embora tais trabalhos tenham sido bastante criteriosos, não tiveram sequencia perdendo assim muito de sua relevância científica na época.
2 - Criação da CGG-Comissão Geographica e Geológica
Em 27 de março de 1886 foi instituida a 'Comissão Geographica e Geológica', de acordo com a Lei provincial N° 9 e em 07 de Abril de 1886 foram baixadas as "Instruções para Geographica e Geológica" e a partir dos serviços dessa comissão que realmente começaram a ter trabalhos e documentos relevantes para o Estado de São Paulo. Em 1889 surgiram as primeiras publicações oficiais sobre Meteorologia, e o primeiro Mapa Pluviométrico do estado foi publicado em 1901.
"O governo da Província fica autorizado desde já a despender a quantia de cincoenta contos de réis (50:000$000) com a iniciação dos trabalhos de levantamento de cartas geográficas, topográficas, itinerárias, geológicas, e agrícolas da mesma província"
"Enquanto não se constituir regularmente o serviço meteorológico da Província, a comissão além dos trabalhos indispensáveis às operações topográficas, dará o possível desenvolvimento ao estudo da Meteorologia e coordenará os dados que lhe deverão
remeter aos engenheiros fiscais das estradas de ferro e outras empresas, e quaisquer outros funcionários que tenham à seu cargo esse serviço"
Para dirigir a Comissão Geographica e Geológica, João Alfredo, Presidente da Província de São Paulo (Governador), nomeou Orville Adelbert Derby, geólogo norte-americano com quem já fazia contatos desde 1985, sendo composta por:
-Alberto Löfgren (ou Loefgren)
-Antonio A. Lallemant
-Antonio Lacerda
-Axel Frick
-Eugenio Hussak
-Francisco Paula de Oliveira
-João Frederico Washington de Aguiar
-Luis Gonzaga de Campos
-Orville Adelbert Derby (chefe)
-Theodoro Sampaio
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Membros da primeira Comissão Geográphica e Geológica
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3 - Atividades de campo da Comissão Geographica e Geológica (CGG)
A CGG ao longo de suas atividades criou várias instituições:
-Centro Tecnológico de Hidráulica-DAEE
-Instituto Astronômico e Geofísico (em continuidade ao Observatório de São Paulo)
-Instituto de Botânica
-Instituto Florestal
-Instituto Geográfico e Cartográfico
-Instituto Geológico
-Museu de Arqueologia e Etnografia
-Museu Paulista
-Museu de Zoologia
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CGG - Primeiro mapa de chuva para o estado de São Paulo (1901)
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4 - Torre meteorológica do jardim da Luz
Torre circular onde funcionou a Estação Meteorológica da Comissão Geographica e Geológica de 1888 a 1894 no Jardim da Luz, posteriormente transferida para o edifício da Escola Normal da Praça da República.
O Jardim da Luz foi criado em 1825 no local conhecido como Campo da Luz ou Campo do Guaré, e tornou-se o primeiro parque público de São Paulo, local onde foi iniciada a
construção da Capela Nossa Senhora da Luz, dando ao nome. Já foi denominado de Jardim Botânico da Luz, Jardim Público da Luz e novamente Jardim da Luz.
Era conhecida como o 'Canudo de João Teodoro' em alusão ao presidente da província de São Paulo de 1982 a 1985, João Teodoro, governador do período.
Dr. João Teodoro Xavier de Matos foi político, Advogado, Professor de Direito, Promotor Público, Procurador da Tesouraria da Fazenda, e o primeiro urbanista do Brasil, promovendo reformas importantes do traçado urbano da capital de São Paulo.
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Ao fundo: vista da Torre Meteorológica do Jardim da Luz na capital de São Paulo.
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5 - Observatorio Meteorologico da Av. Paulista
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Vista da cúpula do Observatório de São Paulo na Avenida Paulista, atual MASP, da Rua da Consolação para o bairro do Paraíso (1925)
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6 - Criação do IAG - Instituto Astronômico e Geofísico
Com o movimento crescente da cidade, o tráfego dos bondes na Av. Paulista começou a afetar alguns instrumentos devido à trepidação, e isto fez com que fosse necessário escolher um novo local para sediar o Observatório.
Em vista desse sério inconveniente, foi sugerida a mudança do Observatório de São Paulo para uma região mais adequada e assim, a escolha recaiu na área do então denominado Parque do Estado, atual PEFI-Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, localizado no bairro Água Funda, e em 24 de fevereiro de 1932, foi iniciada a construção do Instituto Astronômico e Geofísico e inaugurado em 25 de abril de 1941. Em 30 de dezembro de 1946, o IAG foi incorporado à Universidade de São Paulo como instituto anexo.
Em vista desse sério inconveniente, foi sugerida a mudança do Observatório de São Paulo para uma região mais adequada e assim, a escolha recaiu na área do então denominado Parque do Estado, atual PEFI-Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, localizado no bairro Água Funda, e em 24 de fevereiro de 1932, foi iniciada a construção do Instituto Astronômico e Geofísico e inaugurado em 25 de abril de 1941. Em 30 de dezembro de 1946, o IAG foi incorporado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo como instituto anexo.
Ainda sem os prédios construídos e mesmo com as dificuldades naturais da época, a partir de 1º de janeiro de 1933 iniciaram-se oficialmente as atividades da Estação Meteorológica, com a realização de Observações Meteorológicas de Superfície até o presente, sem qualquer interrupção.
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Estação Meteorológica Central da CGG (1895 - 1912)
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7 - Prof. Abrahão de Moraes
Professor de Matemática Superior, Física Experimental, Física Atômica, Mecânica Racional e Celeste, docente da FFCL-USP, Escola Politécnica-USP, ITA, PUC, FFCL de São Bento, FFCL-Mackenzie, sócio-fundador da Associação de Amadores de Astronomia , e coordenou as atividades programadas para o IGY-Ano Geofísico Internacional de 1957-1958.
Homenagens:
-'Auditório Abrahão de Moraes' - Instituto de Física da USP
-'Centro Acadêmico Abrahão de Moraes' - Instituto de Física da USP
-'Observatório Abrahão de Moraes' em Valinhos, São Paulo.
-'Avenida Prof. Abraão de Morais', a partir de 1971, no Bairro da Saúde, com dois erros de grafia.
-'De Moraes', cratera na Lua
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Prof. Abrahão de Moraes, diretor do IAG de 1955 a 1970
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8 - O Curso de Bacharelado em Meteorologia do IAG
Após a criação do Departamento de Meteorologia do IAG em 1975, surgiu a ideia de oferecer algumas disciplinas de Meteorologia, Astronomia e Geofísica como optativas para os cursos de Física, Matemática, Geografia, e Engenharia da USP. Nesse mesmo período, o então diretor Prof. Dr. Giorgio Eugenio Oscare Giacaglia, motivou-se para criar uma comissão que elaborasse um programa disciplinar para um futuro curso de Meteorologia. Nessa comissão participou ativamente o Prof. Paulo Marques dos Santos que com a sua formação de Meteorologista da Aeronáutica, elaborou o programa das disciplinas, e assim foi oferecido pelo IAG, o Curso de Bacharelado em Meteorologia a partir de 1977, atuando como professor de várias disciplinas.
Atualmente a estação meteorológica participa no treinamento dos alunos do Curso de Bacharelado em Meteorologia do IAG-USP e de outras instituições, na metodologia das Observações Meteorológicas recomendada pelos padrões e normas da WMO (Organização Meteorológica Mundial) com:
-Aulas Teóricas e Praticas para alunos do IAG
-Cursos de Treinamento de Alunos da USP e outras instituições
-Orientação de Estudantes em trabalhos escolares, seminários teses de mestrado e doutorado
-Treinamento de novos técnicos
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Entre as várias homenagens recebidas ao longo das suas atividades, o seu nome foi dado ao 'Centro Acadêmico Paulo Marques dos Santos' do IAG.
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